Equilíbrio (Balance)

“Jogaram uma pedra na tranquilidade do lago. O lago comeu-a. Sorriu ondulações. Voltou a ficar tranquilo.” [Prof. Hermógenes]

Se tivesse que resumir em único objetivo o desafio do ser (estar) humano, seria “mantenha o equilíbrio”, sempre, em todas as suas decisões. Viver é um ato contínuo de tomar decisões e fazer escolhas. Decisões acertadas levam a crescimento e evolução no caminho. Decisões erradas geram perdas, atrasos e retrabalho. Para tomar boas decisões é preciso inicialmente ter o correto discernimento da situação e das variáveis envolvidas. E correto discernimento pressupõe imparcialidade, mente tranquila e neutra, sem viés situacional ou emocional para tomada de decisão. Pressupõe equilíbrio.

Equilíbrio verdadeiro independe do exterior, é um estado interior que precisa estar bem alicerçado para resistir a quaisquer ventanias ou tempestades. A única certeza sobre crises e situações adversas é que elas acontecerão. Faz parte da nossa existência ter situações difíceis a enfrentar, assim como situações favoráveis a celebrar. É da natureza oscilar, assim como a eletricidade, o electromagnetismo, as marés, a trajetória solar, lunar, planetárias, tudo é energia e oscila, ocorre em ciclos, altos e baixos, movimentos que impulsionam e conduzem a vida adiante. O pulso. Assim somos e estamos também.

Mas, como manter o equilíbrio vivendo num mundo tão caótico, estressante, com tantos despropósitos, estímulos e distrações? Como disse logo na apresentação deste espaço, iria me apoiar sobremaneira na tradição do Yoga para nossa jornada.

Então vejamos, nos *Yoga Sutras de Pátañjali, logo nos seus primeiros 4(quatro) aforismos está dito:

1. atha yoga-anuśāsanam ~ Agora o Yoga será explicado
2. yogaś-citta-vr̥tti-nirodhaḥ ~Yoga consiste em acalmar e neutralizar as agitações dos sentimentos sobre a mente
3. tadā draṣṭuḥ svarūpe-‘vasthānam ~Para encontrar nosso verdadeiro e sábio Eu, devemos olhar para o nosso interior
4. vr̥tti sārūpyam-itaratra ~Sem a tranquilidade da mente, suas agitações distorcem nossas percepções

Este é o motivo pelo qual a filosofia do Yoga, a meu ver é tão valiosa e potente. O Yoga é um sistema filosófico milenar completo em si, que exploraremos em detalhes neste espaço, cuja definição está associada a preparar a mente para que possamos usá-la para tomar decisões a partir do nosso verdadeiro e sábio Eu, nosso Eu Maior. Isso é decidir com sabedoria e Equilíbrio, decidir a partir de uma Mente Neutra não enviesada nem condicionada por ruídos, mágoas, rancor, julgamentos, (pré)conceitos. Mente Neutra é o começo da nossa jornada em direção ao alvo, ao propósito.

Uma boa analogia sobre acalmar a mente que Pátañjali discorre é a de um lago onde a verdade que repousa sobre o fundo somente pode ser vista com clareza se as águas do lago estiverem calmas, do contrário apenas agitações e visões distorcidas.

Yoga consiste, portanto, em desenvolvermos uma capacidade mental tal que possa nos permitir ouvir e caminhar em direção ao nosso Propósito, a partir do nosso Interior mais profundo, nossa Essência, nossa Alma. Diz-se que a mente é uma excelente serva, mas uma péssima líder. E o problema é que ignorantes e distraídos acerca da Alma que somos, deixamos a mente liderar nossas decisões, sem a orientação da Alma. Pior ainda, achamos que a mente desgovernada de fato é quem lidera nossas ações. Mais adiante falaremos especificamente sobre a mente. Mas o entendimento que não somos nossa mente ordinária é uma peça fundamental dessa investigação. Exploraremos isso adiante…

* “Patañjali é conhecido como tendo sido o mítico codificador do Yoga através da obra: Yoga Sutras. A origem do Yoga é incerta e remonta há dezenas de séculos atrás na Índia, tendo como ponto histórico de partida esta obra de Patañjali, do qual também pouco se conhece. Ainda assim, a obra deixada como legado é inquestionável, sendo assim base do Yoga Clássico.