A segunda qualidade moral dos Yamas é Satya, – significa viver na Verdade

Yamas – Satya

Olá!

Nos dois últimos encontros falamos de Yamas, um dos oito ramos do Raja Yoga, o mais externo, e que trata sobre como nós lidamos com o externo, com os demais seres, com a sociedade em geral.

Lembrando o aforismo II.30 dos Yoga Sutras de Pátañjali afirma que: “O respeito pelos outros (Yama) é baseado: i) na não-violência (ahimsa); ii) na veracidade (satya); iii) no não roubar (asteya); iv) na não cobiça (aparigraha); e v) agindo com uma consciência dos ideais mais elevados (brahma-charya).”

Em particular, no último encontro, detalhamos Ahimsa, talvez o mais importante dos Yamas e base de todos os demais. Hoje queremos explorar o segundo Yama, Satya ou Veracidade (Verdade)

Satya

A segunda qualidade moral, Satya, significa viver na Verdade, evitar rigorosamente todos os exageros, equívocos, fingimento, e faltas semelhantes, implícitos no dizer ou fazer coisas que não estão de acordo com a Verdade.

Em todas as tradições religiosas, de uma forma ou outra, a Veracidade, o ser verdadeiro, a Verdade é a base fundamental e está diretamente associada à divindade e o caminho para a Felicidade e Bem-aventurança. Viver na Verdade faz parte do caminho à Auto-realização.

Na tradição Hindu, a palavra Satya (Verdade) vem de Sat, que significa Ser Verdadeiramente.  Filosoficamente falando, não existe nada a não ser a Verdade. O que não é Verdade é uma mera ilusão, uma distração. A Verdade é Deus e Deus é a Verdade, ordem dos fatores uma mera sutileza entre tradições orientais e ocidentais. Existe uma forma de se referir a Deus na tradição hindu:  Sat-Chit-Ananda que exemplifica bem o que queremos dizer: Sat (Ser), Chit (Conhecimento), Ananda (Felicidade, Bem-aventurança). Ou seja: onde se encontra o Conhecimento Verdadeiro (Divino) há sempre Felicidade e Bem-Aventurança. Sob o nome de Sat-Chit-Ananda, a Divindade reúne em si a Verdade, o Conhecimento dessa Verdade, e portanto a Felicidade.

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Puja (oferenda à divindade na tradição hindu)

“Além do superior de Mim, não há mais nada a ser encontrado, ó conquistador de riquezas; em Mim é tudo o que vemos amarrados como pérolas em um fio” [Bhagavad Gita – 7.7]

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Menorah – a Luz que nunca se apaga da tradição judaica

No Judaísmo, os rabinos ensinam que a palavra hebraica para “verdade” – אֱמֶת (emêt) – começa com a primeira letra do alfabeto hebraico, א, continua com uma das duas letras do meio, מ, e termina com a última letra ת. Esta palavra hebraica bíblica, portanto, abrange a gama da realidade. A palavra para real é אֲמִתִּי (amití). A palavra para a realidade, no entanto, é מְצִיאוּת (metsiút) – literalmente: o que é encontrado. Ou seja somente pode ser encontrado aquilo que é Real e Verdadeiro.

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Jesus Cristo – a divindade encarnada na tradição Cristã

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim.” João 14:6; E conhecerão a Verdade, e a Verdade os libertará”.
João 8:32; “A Verdade é a essência da tua palavra,
e todas as tuas justas ordenanças são eternas.” [Salmos 119:160]. Apenas as Ordens Verdadeiras são caminho Divino da Realização. Realizar é fazer o caminho Real, o caminho de Deus. Auto-realizar é encontrar esse caminho dentro de você mesmo.

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Buddha – aquele que despertou na tradição Budista

“Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade.” – “A única falha em vida é não ser verdadeiro com as melhores pessoas que se conhece.” [Sidarta Gautama –  Buddha, o Desperto]

As polaridades yin e yang do Tao (caminho)

“A verdade nem sempre é bela, nem belas palavras são a verdade” … “Conhecer os outros é inteligência; conhecer a si mesmo é verdadeira sabedoria. Dominar os outros é força; dominar a si mesmo é o verdadeiro poder[Tao Te Ching, Lao Tzu ]

No Yoga, a Verdade é essencial, um pré-requisito para ser mais direto. A inverdade cria todo tipo de complicação desnecessária à vida, sendo uma fonte constante de perturbação para nossa mente. Como vimos, mente perturbada não combina com auto-realização. Ao contrário, precisamos acalmá-la para que possamos acessar buddhi, nossa Luz Interior, para guiar nosso caminho rumo à auto-realização.

A mentira é um atalho equivocado para fugir de responsabilidades e evitar enfrentar as dificuldades que a vida nos apresenta, contudo um caminho ilusório. As dificuldades enfrentadas geram aprendizado e evolução. Quando se foge à responsabilidade, cedo ou tarde a verdade se revela e obriga a prestar contas. Dessa forma, até que isso aconteça a mentira causa apenas distúrbios, distrações indesejáveis e atraso no caminho.

A verdade é uma linha reta, não existem atalhos. O caminho da auto-realização é o caminho da Verdade. Qualquer um que deixe de fazer o que deve ser feito, está apenas procrastinando e atrasando o seu caminho de auto-realização.

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Escolhas no caminho

“É muito melhor executar o seu dever (Swadharma), ainda que cometendo falhas, do que executar o dever prescrito de outro, mesmo se de forma perfeita. De fato, é preferível morrer no cumprimento de um dever, do que seguir o caminho de outro cheio de perigos.” [Baghavad Gita, 3.35]

Algumas pessoas podem pensar: “mas nem sempre estou seguro do que é a verdade e qual o caminho correto eu devo escolher”. Não sei fazer estas escolhas. Pois bem, funciona mais ou menos assim: quando você começa a se esforçar a praticar a Verdade, pouco a pouco, sua intuição torna-se mais treinada, para perceber as inverdades e como evitá-las.

Porém, se alertado por sua intuição, ainda assim você a ignora, pouco a pouco, num caminho inverso você deixa de ter a percepção da Verdade. Seu ego, sem aconselhamento de buddhi, passa a determinar à sua mente que suas mentiras e equívocos são bem vindos, e você erra o alvo. Caminhando na direção errada, você se afasta do seu objetivo, da sua auto-realização. Você falha na sua missão.

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Como já vimos anteriormente, nós programamos nossa mente a operar da forma como desejamos. Se a treinamos para operar na Verdade, assim ela nos alertará. Se ignoramos os alertas, ela deixará de alertar. Dessa forma, basta começar e ser fiel à sua decisão, o resto decorrerá naturalmente. É simples assim, que se começa. Fácil de entender, difícil de se manter. É o “caminhar e se equilibrar sobre o fio da navalha“. Atenção na ações, nos pensamentos, nas palavras, no momento presente.

A veracidade é essencial ao desenvolvimento de buddhi (intuição). É um processo de desenvolvimento, retroalimentado pela prática da verdade. Mais verdade, mais intuição, mais intuição, maior possibilidade de escolhas acertadas e verdadeiras. Um yogi, buscador da auto-realização deve manter uma vida de franqueza, portanto vivendo na Verdade, naquilo que é Real e portanto divino. Qualquer coisa que esteja em oposição a Lei da Verdade, a Lei do Amor, nos coloca em desarmonia do corpo, da mente e do espírito, nos levando a sofrimento e ignorância.

Assim, num ciclo virtuosos, a Verdade traz discernimento e nos permite tomar decisões mais acertadas pois nossa mente, mais alerta e mais buddhi fará com que nosso ego sirva à nossa alma e não ao contrário. Diz-se que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. Nosso maior mestre é nossa Luz Interior da Consciência, desde que estejamos dispostos a ouvi-la e seguir seus conselhos.

Na próxima oportunidade falaremos de outro Yama, Asteya (não roubar). Nos encontramos em breve! 🙂

Créditos:

https://www.pexels.com/

“A Ciência do Yoga”, I.K Tamini

http://bhagavata.org/gita/

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