A Jornada do Herói
Olá!
Recentemente falamos sobre Propósito e a coragem necessária para enfrentarmos tudo e todos para que possamos ser, de fato, quem nascemos para ser. Ao falar de Propósito, imediatamente pensamos numa missão, um objetivo, meta, aonde se quer chegar… , e como consequência, uma jornada, um caminho a ser perseguido atrás desta meta. A jornada é repleta de obstáculos e para vencê-los é necessária a coragem de um verdadeiro herói…
Não sei qual é o meu Propósito…
A dificuldade em encontrar o seu próprio Propósito não é incomum. Ter ansiedade em se querer saber o destino, antes minimamente de saber qual é o caminho e direção, não ajuda. Se você ainda não sabe qual o seu Propósito, está tudo bem. É um processo, e pode, portanto, ser mais ou menos demorado para cada um. Na verdade, ninguém sabe ao certo o seu propósito, com exceção de avatares, mas não entraremos neste detalhe aqui. A percepção do propósito é muito mais por intuição e inspiração do que por qualquer estudo científico. Não é impossível, mas eu diria que é bastante raro, que uma pessoa conheça o seu Propósito logo no início de sua vida, e muitas vezes durante boa parte da vida, sem algumas tentativas e experiências frustradas até que se lhe apresente o caminho de uma forma mais clara. Em geral, o que sabemos e percebemos são indícios, suspeitas, feedbacks diretos, impulsos naturais, e facilidade ou dificuldade em executar certas tarefas, que pouco a pouco, nos vão dando pistas sobre as habilidades que temos e as condições e ambiente que nos permitem exercitá-las, para que assim, possamos ter ciência e clareza de nossa vocação, nosso Propósito.
É muito fácil contar uma história bem sucedida de Propósito post mortem, ou seja, depois que já aconteceu. Mas, mesmo nesta histórias, quando perguntamos ao protagonista, como ele foi capaz de idealizar tudo aquilo, a resposta mais comum é: “eu não idealizei, apenas foi acontecendo….”. Raramente essa nossa “missão” é perceptível de forma tão direta e explícita porque a vida possui infinitas possibilidades, caminhos e alternativas, que podemos criar dentro ou fora do nosso Propósito. Regra geral, temos múltiplas habilidades, múltiplas escolhas a fazer e muitos, muitos influenciadores desejáveis e outros nem tanto…
Let it be…
Buscar de uma forma direta e insistente o objetivo final, a meta final de uma vida pode, na verdade, atrapalhar. Uma vida plena e feliz não está no final dela, mas ao longo dela. A Felicidade é o próprio caminho a ser trilhado. Quando olhamos demasiadamente para o passado ou tentamos antecipar demais o futuro, deixamos de vivenciar aquilo que realmente importante: o presente, o Agora.
Assim como vimos em Mindfulness, a felicidade está em viver o momento presente o mais intensamente possível. Intensamente, não irresponsavelmente, pelo contrário, atento, com atenção na sua ação. Agir, não reagir. Responder com responsabilidade, e não por impulso. É aí, que a vida, as experiências, o aprendizado, a evolução verdadeiramente acontecem onde, a cada segundo uma ação, uma decisão é tomada, e gera toda a nossa criação, a todo momento: Karma Yoga, o yoga da ação (como vimos em Luzes, Informação, Ação)
A Felicidade …
A maior parte das pessoas espera conquistar, possuir algo para então “eu poder ser feliz”. Na verdade o processo de tomada de decisões, com responsabilidade, de acordo com as leis da natureza, as leis divinas, ações dhármicas, que permitem conquistas reais na evolução do ser, é onde reside a Felicidade verdadeira. A Felicidade acontece quando percebemos que estamos no caminho correto, estamos evoluindo, estamos conquistando algo, algo em nós está se transformando para melhor, quando percebemos que estamos nos tornando a cada dia melhores do que já fomos nos dias anteriores, a cada novo dia “uma nova e melhor versão de nós mesmos”. Para isso estamos aqui: aprender, agir, reagir, corrigir, aprender, evoluir. Não precisamos possuir coisas, apenas precisamos experimentar e pouco a pouco evoluir o ser. Posses são meios e não fins em si. Recursos são importantes para realizar qualquer obra, mas sem inspiração e transpiração não existe obra.
Ao longo dessa Jornada, que na verdade é um suceder de momentos presentes, é importante ter um objetivo, ainda que não muito claro, mas algo que quando você pensa sobre o assunto, você escuta aquele “Sim” interior. Talvez você não saiba exatamente o que o espera na chegada, mas de alguma forma, você sabe que a direção é aquela. A partir dessa ideia de onde se quer ir, é bastante útil se ter alguma referência. Para se trilhar um caminho, um mapa, uma bússola, dicas de quem já trilhou o mesmo caminho ou parecido são muito importantes. Quando se inicia uma obra, é bom ter ferramentas e saber usá-las. Partir do zero não é muito eficaz, nem inteligente.
Cada ser humano, como falamos em Propósito, é “uma aposta única” do Universo, portanto com sua história única e original, contudo histórias, aprendizados, experiências acontecidas com outros, que já trilharam seus caminhos, podem sim nos ajudar a compreender e a trilhar os nossos próprios caminhos. Daí a importância de referenciar e honrar os sábios e mestres que deixaram suas indicações e pistas, verdadeiros mapas do caminho, para a evolução do ser humano. Essa capacidade de compreender e aprender a partir das histórias vivenciadas por nossos semelhantes e antepassados é o que nos torna únicos como espécie e o que nos permite ter uma evolução contínua pessoal e social.
O outro sou eu…
É um tanto paradoxal que, “esquecidos” da nossa existência Una, venhamos a este planeta e nos individualizemos na matéria como seres humanos, para que, com esse olhar individualizado, possamos enxergar a nós mesmos e aprendamos a partir da experiência de convivência e troca com os outros.
Nos compreender a partir dos nossos semelhantes, assim como num espelho, enxergar com ajuda do olhar dos outros, equivocados ou corretos, a mirar as nossas falhas e oportunidades de melhoria, e assim ter a oportunidade de trabalhar sobre elas: refletir, perceber, corrigir, ajustar, lapidar e polir… Aprender a “transformar o chumbo em ouro”, a perfeita analogia e magia da Alquimia.
Quando encaramos verdadeiramente os problemas, que percebemos nos outros indivíduos, como uma oportunidade de repensarmos nossa própria existência, sem culpar, julgar ou terceirizar as ações a serem tomadas por nós mesmos: nós evoluímos. E isso é um processo, um caminho, uma jornada.
Embora poucas pessoas percebam isso, os problemas que enxergamos nos outros, são as verdadeiras oportunidades de nossa própria evolução, quando entendemos e agimos sobre o que verdadeiramente causa o nosso desconforto e sofrimento, sem terceirizar a responsabilidade e/ou culpa de nosso insucesso.
Aquelas pessoas que mais te incomodam são, na verdade, os espelhos mais potentes para te mostrar as tuas oportunidades de ajustes e correções ao longo da tua jornada…
Nossa mente está preparada para analisar, comparar, aprender. Mas também julgar, catalogar e estereotipar. O processo de aprendizagem ocorre dessa forma, de onde se forma toda nossa construção de crenças e valores, bem como nosso consciente e subconsciente.
Interessante notar, que sempre que ouvimos uma história, nossa mente realiza a análise e baseado no nosso consciente e inconsciente, cria uma avaliação sobre aquilo. Podemos simpatizar ou antipatizar com os personagens da história, e vamos construindo novos entendimentos a partir do nosso julgamento sobre a história em curso. Por isso, aprender por histórias, versos, parábolas, mitos, imagens é muito potente porque trabalhamos em paralelo o consciente e o subconsciente. Histórias sobre Jornadas nos ajudam a reconhecer em nós a nossa própria Jornada.
O Monomito
Em 1949, Joseph Campbell publicou um livro, que se tornaria um best seller, entitulado: “O Herói de Mil Faces”. Neste livro, Campbell colocou, de forma bastante didática, suas impressões ao estudar a mitologia de diferentes tradições, e as teorias de psicologia analítica de Carl Jung, com seus estudos de arquétipos, correlacionando-os com antigas histórias e mitos.
O que Campbell denominou Monomito foi a semelhança na sequência lógica dos enredos de histórias e jornadas dos heróis em diferentes tradições, épocas, histórias e mitos. A Jornada do Herói ou Monomito é o modelo comum de histórias que envolvem um herói que parte em uma aventura, é vitorioso em uma crise decisiva e volta para casa mudado ou transformado. Joseph Campbell foi muito influenciado por Carl Jung a partir de suas obras: “Sobre Energia Psíquica” de 1928, “Arquétipos do Inconsciente Coletivo” de 1934 e principalmente: “Psicologia e Alquimia” de 1936.
O estudo das narrativas do mito do herói parece ter se iniciado no século anterior, por volta de 1871 a partir de observações do antropólogo Edward Burnett Tylor de padrões comuns nas tramas das viagens dos heróis. O psicanalista Otto Rank em 1909 e o antropólogo amador Lord Raglan em 1936 também observaram diferentes traços transculturais frequentemente encontrados em relatos de heróis, incluindo heróis míticos. As teorias de Rank, Campbell e Raglan juntas, parecem ser as que melhor condensam o conjunto de análises dos mitos dos heróis.
A Jornada do Herói também deve estar historicamente relacionada a origens ainda muito mais antigas, por exemplo, ligadas aos conhecimentos esotéricos da Gnose e às origens incertas do Tarot, com seus 22 arcanos maiores, assunto também estudado por Carl Jung em seus trabalhos sobre os arquétipos.
A palavra Monomito, Campbell a emprestou do Finnegans Wake (último romance de James Joyce, 1939, um dos grandes marcos da literatura experimental por ser escrito em uma linguagem composta pela fusão de outras palavras, em inglês e outras línguas, buscando uma multiplicidade de significados).
Já a frase “A jornada do herói“, usada em referência ao Monomito de Campbell, entrou pela primeira vez no discurso popular por meio de dois documentários:
- “The Hero’s Journey: O Mundo de Joseph Campbell”(1987), acompanhado por um livro: “The Hero’s Journey: Joseph Campbell em Sua Vida e Trabalho (1990).
- Série de entrevistas de Bill Moyers com Campbell lançada (1988) como documentário e livro: “The Power of Myth”.
Phil Cousineau (autor e produtor norte-americano) na introdução da edição revisada de The Hero’s Journey, escreveu “O monomito é, na verdade, um metamito, uma leitura filosófica da unidade da história espiritual da humanidade, a história por trás da história”.
O conceito de Monomito é popular nos estudos literários e guias de redação americanos, pelo menos desde os anos 1970. Christopher Vogler, um produtor e escritor de filmes de Hollywood, criou um memorando de 7 páginas para a empresa, Um Guia Prático para o Herói de Mil Faces, baseado no trabalho de Campbell. O memorando de Vogler foi posteriormente desenvolvido em livro do final dos anos 1990, The Writer’s Journey: Mythic Structure for Writers, e se tornou referência para os enredos de cineastas em Hollywood.
Star Wars
O filme de George Lucas, Star Wars [Guerra nas Estrelas], de 1977, foi classificado como Monomito assim que foi lançado: “Foi muito estranho porque ao ler O Herói de Mil Faces comecei a perceber que meu primeiro rascunho de Star Wars estava seguindo motivos clássicos” – George Lucas
O diretor de “The Force Awakens” (2015), JJ Abrams, discutindo a natureza da Força, a fonte dos poderes de Luke Skywalker nos filmes Star Wars, revela que sempre viu esse elemento central das histórias – “Star Wars nunca foi sobre ficção científica – foi uma história espiritual”.
George Lucas foi influenciado por diversas histórias e mitos orientais ao escrever o roteiro de Star Wars. Mas muito provavelmente, a história base que deve ter servido para o enredo deva ter sido: “O Ramayana” ou “A Jornada de Rama”, um dos mais antigos e famosos épicos indianos e do Hinduismo. Lucas nunca admitiu isso, mas basta compararmos as histórias. George Lucas admite ter que estudou diversas histórias milenares do oriente.
O jovem príncipe Rama perde primeiro seu reino e depois sua esposa, Sita, raptada por Ravana e levada da India para o Sri Lanka (nomes atuais). Rama completa uma jornada épica para recuperar ambos. Ao longo do caminho, ele reúne Hanuman (um deus hindu com fisionomia de macaco), que o ajuda construindo uma ponte entre India e Sri Lanka, e derrotando ao longo do caminho, vários vilões, incluindo o lorde das Trevas Ravana e seu filho Indrajit. Quando a busca é concluída, Rama reforma seu novo reino para se tornar um estado ideal, sendo ele um Rei divinamente perfeito.
O conhecimento do Vedas, principal fonte do conhecimento milenar indiano, entende o universo como uma Grande História, ou talvez como uma coleção infinita de histórias, todas sonhadas pelo para–Atman, o espírito unificador do universo, que com seus muitos braços e muitas máscaras (ou mil faces!?), desempenha cada papel no drama de realidade. Contar histórias era uma parte importante e poderosa da antiga cultura hindu porque permitia que o público escapasse da máscara de seu próprio papel no mundo e conectasse o jiva-atman ao para-atman. De uma forma bastante literal, histórias como o Ramayana são contadas para ajudá-lo a se tornar outra pessoa, uma pessoa melhor. Pois assim como a vida individual de cada um é uma jornada, a do Universo também é. E se a sua jornada for a de um herói, a soma das jornadas de todos os heróis do Universo, também será uma Grande Jornada do Herói.
Ao longo da história sagrada do Ramayana estão importantes lições espirituais que o público aprenderia ao representá-las como parte da jornada de Rama. Os poderes heróicos de Rama na história vêm todos porque ele é um avatar de Vishnu (o Mantenedor). O público, ao seguir a jornada de Rama, está experimentando o que significa ser um verdadeiro devoto do divino. A promessa do Ramayana era que, dessa forma, ajudaria aqueles que o assistiam a alcançar a liberação espiritual, o objetivo final da prática hindu.
Muitos dos textos coletados na Bíblia, como os mitos da criação do Gênesis, foram escritos como histórias muito antes de serem herdados pelo cristianismo. A história de Siddhartha Gautama, o Buda, é central para o budismo, mas existem centenas de versões, incluindo os contos de Jataka, de outras vidas de Buda.
O significado da Jornada do Herói
A Jornada do Herói, portanto é a jornada do próprio ser. É uma síntese de como se dá o nosso processo evolutivo. Evoluímos por ciclos de aprendizagem. Aprendizagem requer sair da zona de conforto, entender que se tem um propósito, não se esconder da sua missão, estar atento aos mentores ao longo do seu caminho, ter a coragem para seguir adiante, mesmo com forças contrárias e desanimadoras, lutar, agir, para finalmente se transformar.
Um dos meus queridos mentores costuma dizer que, quando voltava de uma peregrinação espiritual e perguntava às pessoas o que tinham achado da experiência, como estavam se sentindo, a resposta que melhor exemplifica o sentimento era: “Same, same, but…. different!”. E assim é… o mundo, os demais, todos aparentemente os mesmos após um ciclo, uma jornada, mas o herói que a vivenciou, certamente retorna transformado, com um grau de consciência superior ao que tinha antes, graças ao aprendizado, aos obstáculos superados. O propósito da Vida é aprender e ensinar. Aprender para sua evolução e ensinar para ajudar a evolução do seu próximo. Assim o Todo evolui…
Star Wars é uma história poderosa porque o encadeamento lógico do filme, assim como no Ramayana, caminha para a evolução do protagonista, uma evolução de consciência, espiritual. Luke representa algo: esperança (que dá nome ao filme), coragem, simplicidade, humildade, heroísmo, algo que está dentro de todos nós. Quando vemos nossa própria essência refletida na tela, sentimos um desejo profundo por ele, e torcemos como se fosse para nós mesmos pela superação.
A Jornada do Herói
“Através da Ação (Karma Yoga), um homem se torna um herói. Através da morte, um herói se torna uma lenda (Jnana Yoga). Através do tempo, uma lenda se torna um mito (Bhakti Yoga)” [Luzes, Informação, Ação]
Na versão adaptada por Vogel, a jornada possui 12 etapas, agrupadas em 4 fases:
- Chamada à aventura
- Ordenação/Iniciação
- Transformação/Unificação
- Retorno do Herói
1. Chamada à aventura
1.i – Mundo Comum: um dia normal como outro qualquer, ambientação inicial, apresenta o(a) personagem, como e onde vive, com quem se relaciona, sua vida monótona e parecida com a de qualquer um de nós. Suas qualidades, defeitos, os quais o público pode encontrar pontos de identificação.
1.ii – O chamado à aventura: o personagem se depara com um conflito, um chamado para uma missão que o tira da sua zona de conforto, que o coloca frente a situações novas. São coisas importantes, que envolvem sua segurança ou pessoas queridas, o destino da sua vida, ou qualquer outra coisa verdadeiramente importante.
1.iii – Recusa: Sendo obrigado a tomar uma atitude, o personagem inicialmente é reticente e recusa o chamado, demora a aceitar a aventura por medo ou descrença em si mesmo. Ele tenta convencer a si mesmo que não se importa com aquilo, compara a segurança e conforto do seu lar com os caminhos tortuosos que poderá encontrar à sua frente e, consequentemente, prefere se manter onde está. Porém, o conflito não deixa de incomodá-lo. infelizmente na vida real a maioria das pessoas não gosta desse estágio e volta direto ao mundo suas vidas pacatas reclamando dos mesmos problemas de sempre sem nunca tomar alguma atitude.
2.iv – Encontro com o Mentor: Diante do impasse, o personagem precisa de ajuda: um mentor, normalmente alguém mais velho ou ao menos mais sábio, que faz com que o herói repense atender ao chamado, e às vezes ainda o treine para isso. Não necessariamente uma pessoa física, um livro, vídeo, lembranças, visões ou até até mesmo uma ajuda sobrenatural, que fará com que ele encontre a autoconfiança necessária para resolver o seu conflito e aceitar o desafio
2.v – Cruzamento do Primeiro Portal: o herói abandonou o mundo comum pra entrar no “novo” mundo, que pode, mas não precisa ser um local físico. Algo desconhecido pelo personagem, um segredo revelado, a uma nova habilidade, ou fato novo que catalise uma nova situação em sua vida.
2.vi – A Barriga da Baleia: O personagem começa a se deparar com diversos desafios, contratempos e obstáculos que testam suas habilidades e o deixam apto às maiores provações que certamente virão. Aparecem as pessoas com quem pode contar e quem são as que desejam prejudicar sua jornada, ou seja, seus aliados e inimigos. Ponto onde público se identifica ainda mais com o personagem.
3.vii – Viagem à caverna íntima: . “A caverna que você teme entrar, possui o Tesouro que você procura. O personagem enfrenta batalhas internas, precisa superar seus medos e traumas. Ele é tentado a desistir da jornada, pode ser literalmente tentado a isso. Esse recuo é utilizado para que o nosso herói se prepare melhor, para mostrar ao público a magnitude do desafio que está por vir.
3.viii – Provação/Ordenação: Ápice da história onde personagem encara seu maior desafio da jornada. O personagem precisa passar pela provação para cumprir o seu destino e para tal precisará utilizar todos os conhecimentos e experiências adquiridos durante a sua jornada até aquele momento. Passará por um teste físico e/ou mental de extrema dificuldade, enfrentará um(ns) inimigo(s) letal(is). Luta com monstros externos e/ou internos, podendo passar por uma situação de vida ou morte, às vezes até morrendo literalmente, antes de ressurgir. Essa provação tem um significado de transformação e, por isso, é comparada com a morte e ressurreição para uma nova vida.
3.ix – Recompensa: Após enfrentar seus maiores medos, seus inimigos e até a morte, o personagem recebe a sua recompensa, que pode ser um objeto físico, simbólico, um conhecimento ou sabedoria ímpar. Essa recompensa simboliza a sua transformação em uma pessoa mais forte e mais evoluída. Mas ele não deve se demorar muito em suas comemorações, pois sua jornada ainda não chegou ao fim. Ele precisa voltar para ao ponto de onde partiu com essa nova consciência/conquista.
4.x – O caminho de Volta: O retorno não oferece tantos perigos, mas sim um momento de reflexão, em que o nosso herói poderá ser exposto à necessidade de uma escolha entre a realização de um objetivo pessoal ou um bem coletivo maior. Ele sabe que precisa retornar ao mundo, porém às vezes existe uma recusa ao retorno da mesma forma que houve no início na hora de aceitar aventura mas, pois a zona de conforto é sempre tentadora, mas ele precisa voltar para seguir seu destino.
4.xi – O Senhor de Dois Mundos/Ressurreição: o ponto mais alto da história pois o herói já não é mais aquela pessoa comum do início da história, agora ele tem o conhecimento expandido e de agora em diante sua vida nunca mais será a mesma. Nesta fase o inimigo pode ressurgir, quando mais ninguém esperava com um desafio ampliado, que representa um perigo coletivo para a comunidade, família, a humanidade. Aqui, o personagem destrói o inimigo definitivamente — ou não — e pode, de fato, renascer para uma nova vida, totalmente transformada para todos.
4.xii – Retorno ao Mundo Comum (com o Elixir): o momento do reconhecimento efetivo do nosso herói. A chegada ao seu local de origem simboliza o seu sucesso, conquista e mudança. Aqueles que nunca acreditaram nele ou mesmo os que tentaram prejudicá-lo serão punidos/redimidos, além de ficar muito claro para todos que as coisas nunca mais serão as mesmas por ali.
Ciclos de evolução
“A Jornada do Herói” é um círculo e não uma linha reta com começo, meio e fim. Na verdade, “A Jornada do Herói” é uma espiral positiva, assemelha-se à forma de um tornado. São ciclos sucedidos por ciclos, porém cada um com um nível de consciência diferente do anterior.
É um reflexo direto de nossas vidas, vivenciamos ciclos de aprendizado, por isso nos identificamos com essas histórias de heróis, porque no fundo, no nosso subconsciente, elas são as histórias de nós mesmos. Novas aventuras, novos chamados e desafios surgem nas nossas vidas a todo momento, num eterno ciclo de crescimento, aprendizagem, sabedoria e auto conhecimento.
Constantemente somos confrontados e convidados a enfrentar os nossos medos mais profundos, as nossas maiores inseguranças, e a partir daí, renascer mais fortes do que antes. Isso acontece durante toda a vida (ou todas as vidas?!). É o ciclo da vida, o ciclo do aprendizado. É a roda de Samsara.
Reviveremos eternamente as mesmas histórias sem herói ao final, presos na roda de Samsara? Ou viveremos nossas histórias criando nossos heróis e mitos a cada grau evolutivo, para que outros também possam aprender a partir delas, e também se tornem nossos novos heróis?!
Você tem as rédeas da sua jornada?! Você está na sua espiral positiva?! Você está enfrentando bravamente seus obstáculos, transcendendo antigas crenças, ressurgindo transformado?! Ou segue buscando explicações de suas frustrações, medos e desencontros nos outros, com desculpas, ainda que verdadeiras, para, apaticamente, não enfrentar as dificuldades que surgem na sua vida. Qual é a jornada do seu herói interior, a jornada da sua alma?…
Hoje ficamos por aqui. Espero que essa reflexão sobre jornadas tenha sido proveitosa, e que você tenha podido refletir, profundamente, sobre a sua própria. Avante Herói! Nos vemos em breve 😉