Hatha Yoga
Olá!
Hoje falaremos sobre a forma mais tradicional de todas as linhas de Yoga: Hatha Yoga
Hatha Yoga – हठयोग : “ha” (sol) e “tha” (lua) é à busca do equilíbrio das forças solar e lunar, masculina e feminina. Também é interpretada como a forma mais elevada da prática do Pranayama pois as sílabas “ha” e “tha” são também uma combinação de dois mantras: “ha” representa o prana, a força vital, e “tha” representa a mente, a energia mental.
A consciência Una é a razão de existir do Yoga. Yoga significar unir. Hatha Yoga objetiva unir o poder das forças masculina do Sol (Ha) e feminina da Lua (Tha), para criar equilíbrio e assim despertar a energia adormecida que nos leva ao despertar da Consciência, através de técnicas de respiração/purificação (Pranayama), posturas (Ásanas) e meditação (Dhyana). São práticas intensas porque envolvem respectivamente: prana, energia corporal e chitta (mente). Objetivo é gerar energia, mas uma energia concentrada e utilizada para um propósito, por isso as práticas são específicas e direcionam a energia. A energia de Hatha Yoga é como o fogo, você pode usá-lo para cozinhar ou para incendiar uma casa, se for descuidado.
Um pouco da História do Hatha Yoga
A origem do Hatha Yoga é bastante incerta e envolve fatos reais misturados com lendas, mitos e histórias não escritas. Abaixo algumas versões conforme a origem de cada tradição (Sampradaya). No hinduísmo, um Sampradaya é uma tradição disciplinar sucessória que serve como canal espiritual e que encerra uma filosofia comum abraçada por muitas escolas, grupos, ou linhagens de guru. Ao receber a iniciação por um parampara de um guru vivo, a pessoa automaticamente passa a pertencer ao sampradaya do guru.
Dashanami Sampradaya
James Mallinson, indólogo britânico, escritor, tradutor e nobre, associa uma das origens do Haṭha Yoga ao Dashanami Sampradaya, também conhecida como a ordem dos Swamis, tradição monástica hindu, associada à tradição do Vedanta e organizada em sua forma atual pelo teólogo do século VIII Adi Shankara, associado à figura mística de Dattatreya.
Dattatreya é reverenciado como o Adi-Guru (Primeiro Professor) do Adinath Sampradaya dos Nathas, o primeiro “Senhor do Yoga” com domínio do Tantra (técnicas), embora a maioria das tradições e estudiosos considerem Adi Nath um epíteto de Shiva. Dattatreya inspirou muitos movimentos monásticos no shivaismo, no vaishnavismo e no shaktismo, particularmente na região de Deccan da Índia, sul da Índia, Gujarat, Rajastão e regiões do Himalaia, onde a tradição Shiva tem sido forte. Segundo Mallinson, Dattatreya não é um guru tradicional do Nath Sampradaya, outra linhagem que veremos abaixo, ele foi cooptado pela tradição Nath por volta do século 18 como guru, como parte do sincretismo Vishnu-Shiva. Vários Upanishads são dedicados a Dattatreya, assim como os textos da tradição Advaita Vedanta-Yoga no Hinduísmo. Um dos textos mais importantes do Advaita Vedanta, o “Avadhuta Gita (canção do livre”) é atribuído a ele, assim como o festival anual no mês hindu de Mārgaśīrṣa (novembro / dezembro): o Datta Jayanti.
Adi Shankara, ele próprio considerado uma encarnação de Shiva, estabeleceu o Dashanami Sampradaya, organizando uma seção de 10(dez) monásticos Ēkadaṇḍi, sob 4(quatro) mahas (mosteiros), com sedes em: Dvārakā no oeste, Jagannathadham Puri no leste, Sringeri no sul e Badrikashrama no norte. Ainda que os monásticos dessas dez ordens diferem em parte em suas crenças e práticas, cada maha liderado por um de seus quatro principais discípulos, continuou o Vedanta Sampradaya e assim, diz-se transmitiram o conhecimento do Hatha-Yoga por diversas gerações.
De acordo com o Dattatreya, existem 2(duas) formas de Hatha Yoga: i) uma praticada por Yajñavalkya (sábio védico hindu, mencionado nos Upanishads, que provavelmente viveu na região de Videha, na Índia antiga, entre os séculos VIII e VII aC, considerado um dos primeiros filósofos da história registrada, que propôs e debateu questões metafísicas sobre a natureza da existência, consciência e impermanência, e expôs a doutrina epistêmica de neti neti (“não isso, não isso”) para descobrir o Eu e o ãtman universais, suas idéias para a renúncia aos apegos mundanos foram importantes para as tradições hindus sannyasa, linhagem de ascetas), que consiste nos oito membros do ashtanga yoga; e ii) outra praticada por Kapila (diferentes indivíduos nos textos indianos antigos e medievais, dos quais o mais conhecido é o fundador da escola Samkhya de filosofia hindu. Samkhya é considerada um sábio védico, que estima-se viveu no século VI ou VII aC. Creditado como autor do influente Samkhya-sutra, no qual os sutras aforísticos apresentam a filosofia dualista de Samkhya. Sua influência sobre Buda e no budismo há muito tempo é objeto de estudos acadêmicos. Muitas personalidades históricas do hinduísmo e jainismo, figuras míticas, locais de peregrinação na religião indiana, bem como uma variedade antiga de vacas, receberam o nome de Kapila), que consiste em oito mudras.
Natha Sampradaya
No Norte da Índia, as origens do Haṭha Yoga apontam para a tradição dos yogis da Natha Sampradaya através de seu tradicional fundador Matsyendra Nâtha (ou Luipâ). Natha, é uma sub-tradição Shivaista no Hinduísmo. Um movimento medieval, combinou idéias das tradições do budismo, shivaismo e ioga na Índia. Diz-se que existem 84 siddhas (mestres realizados ou “perfeitos”, que alcançaram a iluminacão, a perfeição suprema). Destes, Matsyendra Nâtha teria sido o primeiro. Os Nathas têm sido uma confederação de devotos que consideram Shiva, como seu primeiro senhor ou guru, com listas variadas de senhores adicionais. A partir de Matsyendra Nâtha no século 9 ou 10 e as idéias e organização desenvolvidas principalmente por seu discípulo, Gorakh Nâtha são particularmente importantes. Quase todos os textos sobre hatha yoga citam os siddhas Natha nas tradições ao norte da India. Os mais importantes são creditados a Goraksha Nâtha. Matsyendra Nâtha, também conhecido como Minanath ou Minapa no Tibete, é comemorado como um santo nas escolas de Yoga Tântrica e Haṭha, Hindu e Budista.
Textos antigos do Hatha Yoga
Amṛtasiddhi (Século 11d.c)
Atualmente, o texto mais antigo conhecido a descrever haṭha yoga, é o Amṛtasiddhi, do século 11 dC, escrito em duas línguas, sânscrito e tibetano, vem de um ambiente budista tântrico. Os capítulos 1-10 descrevem como o corpo do yoga funciona. O capítulo 7 afirma que o bindu, descrito como uma “semente única” e identificado com Sadashiva, a lua e “outras substâncias exóticas”, é a essência básica de tudo o que existe. O Bindu é controlado pela respiração, exigindo controle da mente. A referência a Sadashiva implica um público tântrico saivita, enquanto o uso do texto dos termos budistas tântricos implica que o texto veio desse ambiente. O capítulo 11 descreve o uso de mahāmudrā, o “grande selo”, para manter o bindu e, portanto, controlar “corpo, fala e mente” e, finalmente, para impedir a morte. O Amṛtasiddhi coloca sol, lua e fogo dentro do corpo. Como nos textos anteriores, a lua está na cabeça, pingando amṛta; o texto introduz a nova idéia de que o sol / fogo está na barriga, consumindo a quantidade, levando à morte. O bindu é identificado pela primeira vez com a gota de água e com o sêmen. Também pela primeira vez, o texto afirma que a preservação desse fluido é necessária para a vida: “O néctar da imortalidade na lua desce; como resultado, os homens morrem”. O bindu é de dois tipos: o macho é bīja, sêmen e a fêmea é rajas, o “fluido generativo feminino”. O texto também é o primeiro a vincular o bindu à mente e à respiração, cujos movimentos fazem com que o bindu se mova; e o primeiro a declarar que as práticas yogue de mahāmudra, mahābandha e mahāvedha podem forçar a respiração a entrar e subir ao longo do canal central. Os textos mais antigos para usar a terminologia do hatha também são budistas vajrayana. Mais tarde, os textos de haṭha yoga adotam as práticas dos mudras de haṭha yoga em um sistema Saiva, fundindo-o com os métodos Laya yoga, que se concentram no aumento da kuṇḍalinī através dos canais de energia e dos chakras.
Hatha Yoga Pradipika
Hatha Yoga Pradipika हठयोगप्रदीपिका) obra escrita por Svātmārāma em data incerta (entre século XIV e XVI), uma das mais conhecidas e influentes obras sobre o Haṭha Yoga indiano tradicional, cujos fundador é Goraksha (Goraknath) Natha. A palavra sânscrita dipika significa luz, lamparina ou lâmpada, por isso o título desta obra indica que ela ilumina ou lança uma luz sobre o Haṭha Yoga. Essa obra foi escrita pelos discípulos de Gorakshanatha, visto que o seu primeiro livro era considerado profundamente polêmico. Gorakshanatha fez sua codificação do Hatha Yoga com o livro homônimo. Praticamente as cópias desse livro original não existem mais, visto que sua modalidade tântrica era muito agressiva para a época medieval e obscurantista. Os discípulos de seus discípulos lançaram, muito tempo depois, o Hatha Yoga Pradipika, através da lembrança (smriti) do livro original.
Hatha Yoga Pradipika é um tratado a respeito das práticas mais profundas desenvolvidas no Haṭha Yoga indiano, cujo objetivo era a transformação psicofísica completa do praticante e sua libertação espiritual. É o texto base sobre o qual os escritores subsequentes se referem. Neste tratado estão detalhados os Ásanas, Pranayamas e Mudras. Para ser mestre do Self, Hatha Yoga tornou-se o meio de chegar lá.
15 ásanas mencionados no Hatha Yoga Pradipika
- Swastika-âsana (postura da swastika)
- Gomukha-âsana (postura da cara de vaca)
- Vîrâsana (postura do herói)
- Kurmâsana (postura da tartaruga)
- Kukkuṭa âsana (postura do galo)
- Uttâna Kûrma-âsana (postura da tartaruga invertida)
- Dhanura âsana (postura do arco)
- Matsya-âsana (postura do peixe)
- Paśchima Tâna (postura de extensão das costas)
- Mayûra-âsana (postura do pavão)
- Śava-âsana (postura do cadáver)
- Siddhâsana (postura perfeita)
- Padmâsana (postura de lótus)
- Siṃhâsana (postura do leão)
- Bhadrâsana (postura auspiciosa)
Gheranda Samhita (घेरण्ड संहिता )
Outro texto muito imporante é a Gheranda Samhita (घेरण्ड संहिता ), que significa a “coleção de Gheranda” – um manual de Hatha Yoga do século XVII, contendo 351 estrofes distribuídas em sete capítulos. As técnicas apresentadas formam a base de muitas práticas do Yoga contemporâneo. O ensinamento apresenta-se em forma de diálogo entre o sábio Gheranda e seu discípulo Chanda Kápáli. Esta obra Vaishnavita toma como modelo o Hatha Yoga Pradipika e alguns versos têm correspondência com os do dito manual. Gheranda ensina uma disciplina de sete passos (septa-sádhana: 1-Shatkarma para limpeza corporal; 2)Asana para fortalecimento do corpo; 3- Mudra para estabilizar o corpo; 4- Pratyahara para acalmar a mente; 5-Pranayama para leveza interior; 6- Dhyana para percepção interna; 7-Samādhi para autoliberação e bem-aventurança) e descreve 32 (trinta e duas) posturas (ásanas) e 25(vinte e cinco) “selos” (mudras). A parte mais original deste trabalho é o extenso tratamento das técnicas de purificação (shodhana). Também propõe uma interessante classificação do fenômeno do ênstase (samádhi).
Śiva-Saṁhitā
Outro texto tradicional do Haṭha Yoga indiano é a Śiva-Saṁhitā (coleção de ensinamentos de Shiva. Texto poético do século XVIII, onde Shiva se dirige a sua consorte Parvati. São cinco capítulos, onde o primeiro resume a filosofia não-dual Vedanta (Advaita Vedanta) com influências da escola Sri Vidya do sul da Índia), os mais conhecidos.
Yoga Makaranda
Bastante mais recente, Yoga Makaranda (sânscrito: योग मकरन्द), significa “Essência do Yoga”, é um livro de 1934 sobre Hatha Yoga do influente Tirumalai Krishnamacharya. A maior parte do texto é uma descrição de 42 asanas acompanhadas por 95 fotografias de Krishnamacharya e seus alunos executando ásanas. Há um breve relato de outras práticas dos oito membros da Yoga clássica, mas que não foi o foco deste livro de Krishnamacharya em seus ensinamentos, fato pelo qual o autor foi criticado por estar “falsamente reivindicando uma origem antiga para seu sistema vinyasa de Yoga dinâmico”. De qualquer forma é uma referência importante especialmente em Ásanas e “as fotos das posturas serviram à época para desmitificar os Ásanas de seu conteúdo apenas espiritual”
A importância do Hatha Yoga
Segundo Georg Feuerstein, em “A Tradição do Yoga”, Hatha Yoga é o “yoga vigoroso”, produto da época medieval, com objetivo de transcender a consciência egóica, utilizando para isso uma tecnologia psicoespiritual em torno do desenvolvimento do potencial do corpo, para que este seja capaz de suportar a força e o peso da realização da transcedência do ser.
O Hatha Yoga considera o corpo como um templo da divindade e uma expressão do Âtman, do Ser, que é criador e agente material da criação. Um corpo de diamante. Assim, a metodologia utilizada é baseada no fortalecimento do físico, o corpo deve estar bem trabalhado e preparado para suportar a força e o peso da elevação espiritual. Para tanto, os ásanas devem ser praticados com consciência e foco, respeitando os limites do corpo e buscando alcançar o relaxamento e consequentemente o controle da ansiedade.
Do denso ao sutil, o corpo é o caminho mais evidente para iniciantes em busca do Autoconhecimento, primeiro o corpo, depois a mente, depois as energias sutis. O corpo é utilizado como meio indireto e acessar a mente. Por exemplo, eu tenho uma mão ou uma perna, e na maior parte do tempo, nem me dou conta disso. Porém se me pedem esticar essa mão ou essa perna e manter assim por cinco minutos. Nestes cinco minutos eu tenho que me concentrar nesta mão ou nesta perna. Dessa forma eu estou consciente desse membro do meu corpo. Dessa forma, eu crio a possibilidade de aumentar a minha sensibilidade, de criar novas conexões mentais e a minha consciência, minha atenção no momento presente. Através dos movimentos e posturas do corpo é possível criar a possibilidade de ancorar a mente. O corpo é tangível, visível, sensível. A mente não. Por esse motivo Hatha-Yoga é popular e tem crescido tanto nos últimos séculos e, na Era da Informação e do Coletivo, cada vez mais acessível a bilhões de pessoas. E torna-se a porta de entrada para os demais ramos do yoga. Por isso Hatha Yoga inclui também as práticas de purificação, meditação, pranayamas. Todo o sistema em purificação para entrar em equilíbrio.
Sadhana (prática) em Hatha Yoga
As práticas em Hatha Yoga concentram-se em Purificações, Ásanas, Pranayamas e Meditação. Vejamos cada um em detalhe.
Purificações (Sodhana)
A partir da experiência secular transmitida de guru para discípulos, os yogis perceberam que as purificações eram necessárias e muito mais eficientes para as práticas de Pranayama. O texto Gheraṇḍa Saṁhitā que comentamos anteriormente traz 6(seis) práticas de purificação, que podem parecer muito estranhas, em especial para nós no ocidente., assim como um indígena americano provavelmente não tenha entendido a razão de ser do papel higiênico até hoje, apenas por fazer uma provocação empática.
Técnicas de Purificação em Hatha Yoga
- Dhauti (“limpeza”)
- Antar-dhauti (limpeza interna) através de quatro técnicas: i) vâta-sâra-antar-dhauti; ii) vâri-sâra-antar-dhauti; iii) vahni-sâra-antar-dhauti; e iv) bahish-krita-antar-dhauti
- Danta-dhauti (“limpeza dos dentes”)
- Hrid-dhauti (“limpeza do coração”)
- Mûla-shodana (“purificação da raiz”)
- Vasti ou basti (“bexiga”)
- Neti
- Lauli ou laulikî
- Trâtaka
- Kapâla-bhâ
- vâma-krama
- vyut-krama
- shît-krama
Ásanas
Nos Yoga Sutras, Patañjali não mencionou os tipos de ásanas, apenas mencionou o “assento perfeito” como parte dos Oito Membros do Yoga. Alguns ásanas para meditação mais utilizados hojes são: Sukhasana (pose confortável e de pernas cruzadas), Bhadrásana (postura auspiciosa), Siddhasana (postura perfeita ou do adepto), Padmasana (postura de lótus), Vajrasana (sentado nos calcanhares), Dandásana (pose de bastão).
Mas afinal, quantos Ásanas existem?!
A Gheranda-Samhitâ afirma que existem tantos Ásanas quanto são as espécies de animais e que Shiva teria ensinado 840.000 posturas distintas, das quais 84 são consideradas importantes pelos yogis. No Hatha-Yoga Pradipika, contudo afirma-se que Shiva teria ensinado apenas 84 ásanas. Destas 84 mencionadas no Hatha Yoga Pradipika, 32 estão descritas na Gheranda-Samhitâ, e logo ganham importância pela coincidência nos dois textos auspiciosos.
As 32 posturas mencionadas nos dois principais tratados: Gheranda-Sahmitâ e Hatha Yoga Pradipika
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Mudras (Selos) e Bandhas (Travas)
Os mudras e bandhas estão diretamente associados aos ásanas. No Gheranda Samhita, os Mudras são apresentados antes do Pranayama, porque os Mudras devem produzir uma sensação de prazer, o que é essencial para a prática do pranayama; de modo que a mente anseia por isso e tende a repeti-lo.
Porém no Hatha Yoga Pradipika, os Mudras são apresentados após o Pranayama, provavelmente porque os Mudras escolhidos requerem o estado energético obtido com a prática do Pranayama.
Os 25 mudras e bandhas do Gheranda Samhita
- Maha-mudrâ (“grande selo”)
- Nabho-mudrâ (“selo celestial”)
- Uddiyana-bandha (“trava ascendente”)
- Jalamdhara-bandha (“trava da garganta”)
- Mûla-bandha (“trava da raiz”)
- Mahâ-bandha (“grande trava”)
- Mahâ-vedha (“grande perfurador”)
- Khecari-mudrâ खेचरी मुद्रा (“selo do ser espacial”)
- Viparîta-karanî-mudrâ (“selo de ação invertida”)
- Yoni-mudrâ ou shan-mukhi-mudrâ (“selo uterino”)
- Vajroli-mudrâ (“selo do raio”)
- Sakthi-châlini-mudrâ (“selo que desperta o poder”)
- Tadagi-mudrâ (“selo do lago”)
- Mandavi-mudrâ (“selo do sapo”)
- Sambhavini-mudrâ (“selo de Shambhu”)
- Ashvini-mudrâ (“selo do cavalo do amanhecer”)
- Pashinî-mudra (“selo do laçador de pássaros”)
- Kakî-mudra (“selo do corvo”)
- Mâtangî (“selo do elefante”)
- Bhujanginî (“selo da serpente”)
- Prithvi dharana mudra – (“concentração no elemento Terra”)
- Ambhasi dharana mudra – (“concentração no elemento Água”)
- Agneyi dharana mudra – (“concentração no elemento Fogo”)
- Vayviye dharana mudra – (“concentração no elemento Ar”)
- Akashi dharana mudra – (“concentração no elemento Espaço”)
Gheranda-Sahmitâ (GS), Hatha Yoga Pradipika (HYP) e Yoga Makaranda (YMk)
Mudra/Bandha | GS | HYP | YMk |
Maha-mudrâ | x | x | x |
Nabho-mudrâ | x | x | |
Uddiyana-bandha | x | x | x |
Jalamdhara-bandha | x | x | x |
Mûla-bandha | x | x | x |
Mahâ-bandha | x | x | x |
Mahâ-vedha | x | x | x |
Khecari-mudrâ | x | x | x |
Viparîta-karanî-mudrâ | x | x | x |
Yoni-mudrâ | x | x | |
Vajroli-mudrâ | x | x | x |
Sakthi-châlini-mudrâ | x | x | x |
Tadagi-mudrâ | x | x | |
Mandavi-mudrâ | x | x | |
Sambhavini-mudrâ | x | x | |
Ashvini-mudrâ | x | x | |
Pashinî-mudra | x | x | |
Kakî-mudra | x | x | |
Mâtangî | x | x | |
Bhujanginî | x | x | |
Prithvi dharana mudra | x | ||
Ambhasi dharana mudra | x | ||
Agneyi dharana mudra | x | ||
Vayviye dharana | x | ||
Akashi dharana mudra | x |
Pranayama (e o Controle da Respiração)
Kumbhaka vem do sânscrito कुम्भ significa um pote, compara o torso (tronco) a um recipiente cheio de ar. Kumbhaka é a retenção da respiração no pranayama, seja após a inalação, o interno ou Antara Kumbhaka, ou após a exalação, o externo ou Bahya Kumbhaka (também chamado de Bahir Kumbhaka.
De acordo com B.K.S. Iyengar em Light on Yoga, kumbhaka é a “retenção ou retenção da respiração, um estado onde não há inspiração ou expiração”. Sahit ou Sahaja Kumbhaka é um estado intermediário, quando a retenção da respiração se torna natural, no estágio de retirada dos sentidos, Pratyahara, o quinto dos oito membros da ioga. Kevala Kumbhaka, quando a inspiração e a expiração podem ser suspensas à vontade, é o estágio extremo de Kumbhaka “paralelo ao estado de Samadhi”, ou união com o divino, o último dos oito membros da ioga, alcançado apenas por exercícios de pranayama e kumbhaka de longo prazo.
No Hatha-Yoga-Pradipika está dito que: “o controle máximo da respiração, que ele define como inspirar contando (mātrā) de 8 até 19 e expirando contando até 9, confere liberação e Samadhi.
Os oito tipos de kumbhaka (controle da respiração) conforme a Gheranda-Sahmitâ
- Sahita-kumbhaka (“retenção conjunta”)
- Sagarbha (“com semente”); ou
- Nigarbha (“sem semente”)
- Sûrya-Bheda-Kumbhaka (“retenção que penetra o sol”)
- Ujjâyî-kumbhaka (“retenção vitoriosa”)
- Shîtalî-kumbhaka (“retenção refrescante”)
- Bhastrîka-kumbhaka (“retenção do fole”)
- Bhrâmarî-kumbhaka (“retenção como abelha”)
- Mûrcchâ-kumbhaka (“retenção desfalecida”)
- Kevalî-kumbhaka (“retenção absoluta”)
O controle da respiração tem diversos efeitos fisiológicos e psicológicos, Gheranda distingue três níveis de maestria: i) primeiro gera calor no corpo; ii) tremor nos membro e especialmente na coluna; iii) produz levitação. Pranayama cura as mais diversas doenças
Meditação
No Hatha Yoga e no Tantrismo, de forma geral, dhyâna (concentração) é compreendida como visualização. O Gheranda-Samhitâ descreve 3(três) tipos de dhyâna:
- sthûla: visualização de um objeto “grosseiro”
- Jyotirmâya: visualização de um objeto sutil
- sûkshma: contemplação do Absoluto como Luz (jyotis)
Na tradição Hindu, Dhyâna pode ser precedido por oração, escuta de palavras sagradas ou passagens (shabda), hinos em louvor a Deus (kirtan) ou à deidade escolhida (deidade ishta), repetição do nome divino (nama-japa) e lembrança dele (nama-simaran), para criar um ambiente mental propício para a jornada espiritual. Dhyana é aperfeiçoado quando o poder de sentir (bhavana shakti), o poder de pensar (chintana shakti) e o poder de ação (kriya shakti) se aglutinam para atingir o estado de consciência unitária, no qual o conhecedor (jnata), o conhecimento (jnana) e o objeto de conhecimento (jneya) torna-se um. Isso é chamado de samadhi. No Gherand Samhita (shashthopadesha), o sábio Gheranda instrui seu discípulo Chandakapali que dhyâna é de três tipos: sthûla, jyotîrmaya e sûkshma.
Sthûla dhyana: meditação grosseira, é a contemplação absortiva em uma forma divina, mais especificamente, a imagem do deus pessoal (ishtadeva), ou de um preceptor religioso (guru), entrincheirado em seu ser.
Jyotirmâya dhyana: meditação refulgente, concentra-se na alma individual (jiva-âtman) ou no Ser supremo, irradiando luz (tejomaya brahma) na cavidade do coração. Com a prática, o sadhaka é capaz de ver flashes de luz no som primordial (pranavatmaka jyoti), reverberando dentro dele. Às vezes, o foco é feito em objetos luminosos, como a chama de uma vela ou lâmpada de barro (diya), ou no sol, lua ou estrela, conforme aconselhado pelo mestre espiritual.
Sukshma dhyana: meditação sutil, é feita em algo abstrato, como uma sílaba sagrada (mantra), forma geométrica (yantra), música interior (nada), o ser vital (prana) ou o poder da serpente (kundalini shakti) que fica enrolado na base da coluna vertebral. É melhor executado em shambhavi mudra, com os olhos semiabertos e focados dentro.
De acordo com Gheranda Samhita, jyoirmaya dhyana é cem vezes melhor do que sthula dhyana, e sukshma dhyana um milhão de vezes melhor do que jyotirmaya dhyana. Quando dhyana atinge seu summum bonum (objetivo maior), o buscador descobre em seu corpo o universo inteiro. Os yogis acreditam que o cosmos interno (brahmanda) fica na estrada real (maha marga) da língua (jihva) até o lugar oco no topo da cabeça, chamado brahmarandhra, ou dashma dvara (décima porta ‘). Kundalini-shakti está ativa nesta região. Gheranda sugere que o buscador deve estar totalmente absorvido no processo meditativo da experiência divina.
O Chhandogya Upanishad (capítulo VII.6.1-2) diz que a meditação vem naturalmente para a terra, o espaço intermediário, o céu, as águas, as montanhas, os deuses e os seres humanos. Ele aconselha: ‘medite na meditação’. Mas o alcance da meditação vai tão longe quanto o alcance de um objeto de meditação. O ponto foi explicado assim: “Qualquer pessoa que medita no nome como Brahman (Realidade Absoluta), adquire liberdade de movimento tanto quanto a extensão do nome se estende. A fala é verdadeiramente maior do que o nome. Portanto, aquele que medita sobre a fala … adquire liberdade de movimento na medida em que a extensão da fala se estende. A mente é maior do que a palavra. Qualquer pessoa que medita sobre a mente … obtém liberdade de movimento tanto quanto o alcance da mente se estende. A vontade, de fato, é maior do que a mente. Aquele que medita sobre a vontade … obtém liberdade de movimento na medida em que se estende o alcance da vontade. A inteligência, de fato, é maior do que a vontade. Aquele que medita na inteligência … alcança o mundo como atingível pela inteligência. A meditação é realmente maior do que a inteligência. Aquele que medita na meditação como Brahman obtém liberdade de movimento na medida em que o alcance da meditação se estende. A compreensão é maior do que a meditação. Aquele que medita sobre a compreensão … ganha os mundos possuidores de compreensão e conhecimento. ”E assim por diante.”
Mas aquele que medita no Ser onisciente usando os caminhos da verdade, compreensão, reflexão, fé e outros, descobre que a Realidade Universal autoexistente não está fora, mas dentro dele. O Aitreya Aranayaka (II.2.4.6) diz:
tad yo’ham so’sau, yo’sau so’ham
Por hoje paramos aqui. Mais adiante continuaremos estudando como os Ásanas, Mudras, Bandhas, Pranayama, Meditação são abordados nas demais linhas e tradições do Yoga. E agora que você já conhece um pouco mais sobre as origens do Hatha Yoga, que tal se animar a iniciar sua prática, seu Sadhana?! Nos vemos em breve!!!
Até a próxima 😉
Referências:
“The Hatha Yoga Pradipika – The Original Sanscrit by Svatmarama” – An English Translation by Brian Dana Akers
“A Tradição do Yoga – História, Literatura, Filosofia e Prática” – George Feuerstein, 1998 – tradução português Marcelo Brandão Cipolla, 2006
https://medium.com/natha-sampradaya/tradition-of-natha-53ebb1a74fdb
https://nathas.org/en/about/
“Yoga Makaranda or Yoga Saram (The Essence of Yoga)”
First Part Sri T. Krishnamacharya / Mysore Samasthan Acharya
http://sivanandaonline.org/
https://yogaanatomy.net
Yogic Paths – docuseries Gaia
“Roots of Yoga” – James Mallinson/Mark Singleton – Penguin Classics, 2017
http://sivanandaonline.org/
“A Brief Introduction to the Amrtasiddhi” – James Mallinson, Kurtis Schaeffer, Leonard van der Kuijp, Kurt Keutzer, Jason Birch, Alexis Sanderson, Diwakar Acharya, Mark Singleton, and many others. – Péter-Dániel Szántó – All Souls College, Oxford 15.09.2016 – London
https://www.tribuneindia.com/news/archive/lifestyle/meditate-on-meditation-414129